sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Ovnis e outros ovs

Objetos não identificados voam
no céu das minhas emoções.
Até quando voarão assim
anônimos informes?
Cara-crachá, eu pergunto.
Mas eles não respondem nada.

Voam e arranham esse céu.
Não como fixos arranha-céus,
mas como setas móveis e intangíveis.
Como boomerangs, pombos sem asa.
Arranhões que me fariam agonizar
se os ovnis fossem os únicos a voar nesse céu.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

o grito

Apenas uma seta na aljava,
somente uma pedra no bornal,
só uma bala no revolver.
não! grita minha alma frustrada,
fatigada, enojada de melindres.
engessada pelo dever de acertar!
Que sujeito inflexível!
Quer imolar-se! é duro como José!
Quem sabe vergastando o corpo, ou alma, não amoleço?
Há que amolecer!
Hei de amolecer!
que luta terrível!
é realmente martírio, caça, luta, batalha, guerra.
Tenho um adversário bem treinado,
pronto para se levantar da maneira mais sutil,
mais subreptícia, imperceptível, ladina,
sorrateira, entrincheirada!
Meu inimigo eu já conheço.
Ele sabe disso, por isso se esconde.
é guerra! Napalm! bombas de neutrons!
Morram, dureza e esquema dos meus dias!
Morre, diabo!
Que me reste a paz e a livre experimentação!
Mais vinho, por favor!
Mais!

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

estudos domésticos

De circense a circunspecto mercê das circunstâncias.
Da fachada a porta parece fechada.
De dentro, detenho-me.
O próprio olhar alheio, fixo alhures,
Como se não houvesse parede.

De fora, detêm-se.
Olhares alheios fixos e cuidadosos
verão que paredes não há.
A porta entreaberta convida ao espetáculo,
Mas, e apenas, o público respeitável.