quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Um sentimento de pertencimento

Nove meses ali dentro, bem nutrido, aquecido, o centro de tudo, desejado, amado.
Não queria sair.
Eu era seu, mãe.
E era do meu pai.
Mas era mais seu, mãe.
Passei a ser um pouquinho mais do meu pai quando, já do lado de fora, ele me viu.
Mas continuei sendo seu, mãe.
E era também das minhas avós.
Das minhas tias (e tias) e tios e primos e primas.
Dos seus amigos, mãe.
Dos seus amigos, pai.
Depois passei a ser também dos meus.
Depois fui do meu irmão.
Passei a ser das minhas brincadeiras.
Também dos meus desejos.
Dos meus sonhos.
Passei a ser dos meus pensamentos.
Passei a ser dos meus ideais.
Passei a ser dos saberes.
Passei a ser dos meus saberes.
Passei a ser dos meus sentidos.
Passei a ser dos meus gostos.
Das minhas preferências.
Passei a ser das músicas. Não das minhas. Mas delas.
Passei a ser da vida.
Passei a ser do mundo. Do amor.
Passei a ser de uma mulher.
Passei a ser de Deus.
Passei por muita coisa.
Voltei a ser meu.
Talvez tenha voltado a ser só meu.
Que saudade...
ali eu era seu, mãe.

Um comentário: